[VÍDEO] Analisando O Menino e o Mundo

Analisando O Menino e o Mundo

O Menino e o Mundo foi um filme do em 2014, mas relançado em 2016 por conta da repercussão do público e crítica. Já adianto que é um dos melhores filmes animados brasileiros que existem. Isso se deve provavelmente por todos os detalhes que a equipe da Filme de Papel teve com o filme.

De acordo com o IMDB a sinopse do longa é a seguinte:
“An amazing Brazilian animation that truly exemplifies the power of imagery and music as a combination that has more than enough to portray a powerful and deep message. It shows an adventurous quest that illustrates the issues of the modern world through the eyes of a child. A cautionary tale of globalization, The Boy And The World teaches above all the dangers of the massification of the economy, of the mind, and of the soul.”

Traduzindo:
“É um filme brasileiro incrível que verdadeiramente exemplifica o poder da imaginação e da música como uma combinação, que possui mais que o suficiente para passar uma mensagem poderosa. Monstra uma aventura que ilustra os problemas do mundo moderno aos olhos de uma criança. Uma fábula sobre a globalização, O Menino e o Mundo ensina além de todos os perigos da economia massificada, tanto mentalmente quanto espiritualmente.” (Em tradução livre).

Então existem algumas pequenas coisas que eu queria apontar sobre a genialidade do filme. É só uma interpretação que eu tive ao assisti-lo, então tanto pode fazer sentido com o que o autor quis dizer, como pode não fazer, mas essa é a beleza da arte.

Começando do princípio

Primeira cena do filme. Animação em Motion.

Eu trabalho com motion design e devo dizer que a primeira cena das formas se mexendo foi um deleite para mim, e é muito legal o seu significado. São vários círculos, quadrados, formas aleatórias, que fazem padrões como um caleidoscópio. Mas elas possuem um significado, e é justamente o de algo começando. Uma simples molécula foi o início de tudo, e a partir dela é dado um zoom out até revelar o objeto em questão. Uma pedra colorida. Um tesouro.

Entendendo o protagonista

O menino explorando o mundo.

A primeira sequência em que o menino aparece possui uma única função: mostrar quem ele é de uma forma rápida. E o resultado que se obtém disso é a percepção dele ser uma criança muito curiosa, fofa e aventureira. Eles mostram também a coragem dela. Você entende o personagem por completo em apenas 5 minutos. Logo somos apresentados para os pais e entendemos que ele possui uma ligação muito especial com eles.

A música é a conexão

Uma das coisas mais importantes do filme é a música e o que ela representa. Graficamente, a música é vista como círculos que voam no ar, mas sinto que esses círculos também representam os sentimentos das pessoas, e esse sentimento pode ser bom ou ruim. A forma que entendemos o que conecta o pai com o garoto é a cena da música, no qual o pai tocava para o filho. Ele queria guardar esse círculo, esse sentimento, para si. O tesouro que ele esconde na sequência é justamente um desses círculos musicais.

A partida

O pai do menino aguardando o trem para a cidade grande.

A cena de partida do pai é triste, mas é uma referência direta a história dos países latino-americanos no êxodo rural. Várias famílias buscando melhores condições nas grandes cidades, com promessas de empregos e dinheiro. Graciliano Ramos escreveu bastante sobre as dificuldades do povo nordestino (do qual ele também passou) diante das secas e da falta de suprimentos para subsistência, e é disso que o filme faz uso. Aqui temos a missão do herói sendo colocada em jogo. O menino sente a falta do pai e vai atrás dele.

Método de produção

Uma senhora sendo demitida por não parecer forte.

As críticas ao capitalismo começam a partir do momento que o menino sai de sua casa. Ele encontra um homem de aparência puída e debilitado de sua saúde. Ambos saem para a rotina de trabalho colhendo algodão e é mostrado como esses catadores eram peças totalmente descartáveis para o sistema. No primeiro sinal de uma saúde frágil a pessoa era mandada embora. Mais uma referência ao que acontece até nos dias de hoje.

Muitos funcionários trabalhando para fazer os tecidos.

Uma outra cena que temos desse trabalho massificado e com condições não favoráveis ao trabalhador é na fábrica de tecidos. Temos uma introdução de como funciona e a quantidade de pessoas envolvidas nesse processo. Ao fim no filme, vemos os patrões os demitindo trocando essa mão de obra por máquinas. Essas pessoas ficam sem seu sustento.

Cena em que o menino entra na cidade flutuante.

Ele também mostra como os produtos que as pessoas produzem não pertencem a elas. Sinal disso é quando nos é mostrado para onde esse tecido vai. Um país flutuante (quase alienígena, primeiro mundo), com um poderio bélico gigantesco, onde todos possuem uma vida de privilégios, sustentados pela mão de obra de outros países que fornecem a matéria prima a preços minúsculos para confeccionar as roupas, e assim vendê-las a preços exorbitantes aos países de origem do material. Uma crítica direta a nossa relação com os EUA.

A ditadura

Símbolo da águia, fazendo referência a ditadura financiada pelos EUA.

Também fazendo crítica aos EUA, está o fato desse país ter investido em diversas ditaduras na América Latina com o objetivo de evitar o comunismo em qualquer um desses países. E isso nos forçou a passar pela perda da nossa liberdade e da nossa democracia. O filme mostra isso na cena de luta entre os pássaros. De um lado o pássaro formado pela cultura do povo, uma fênix colorida e imponente, e do outro uma águia formada pelo som estridente e fúnebre. O pássaro negro derrota seu oponente, o que podemos fazer uma analogia da nossa perda da liberdade durante a ditadura.

Momento “série DARK” de O Menino e o Mundo

O menino envelhecido.

A maior revelação do filme é quando descobrimos que no fim, todos os personagens que o garoto conheceu, eram apenas fragmentos de sua vida. Ele se tornara aquele jovem sonhador, que pela falta de oportunidades, não conseguiu acesso a uma vida confortável. Mas ele deixa uma mensagem no fim. A de não parar de sonhar, e de que a próxima geração fará a diferença para a nossa sociedade. Podemos ver isso na cena em que a Fênix renasce. A esperança de uma sociedade mais igual, mais justa para todos. Onde todos tem acesso à condições humanas.

O que tirar disso tudo?

O menino pegando o trem para seguir os passos do pai.

Eu poderia escrever muito mais sobre as analogias feitas durante o filme, mas acho que já consegui transmitir a mensagem do quão genial esse longa é. Ele possui vários momentos tristes, mas no fim nos dá uma esperança para futuro. O Brasil é um país incrível, mesmo com a dificuldade que estamos passando com as nossas lideranças (principalmente nesse momento de pandemia), temos que ter fé e agir para darmos às futuras gerações um lugar mais sustentável, mais justo e mais humano.

Ponto final.



Deixo também o vídeo que fiz sobre esse filme. Podem assistir e assinar o canal.

Beijo do Likus.

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Likus

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